Língua Portuguesa

Concordância ideológica – a dúvida do leitor

Recebi, por meio do formulário de contato do blog, a seguinte mensagem do leitor:  “Quanto a frase: “Acadêmicos do União” que é o nome de uma escola de samba da minha cidade, gostaria de saber se está grafada corretamente ou seria “Acadêmicos da União”. ( Nota: a palavra UNIÃO faz referência a um clube da cidade).”  Respondi ao  leitor  dizendo que a  construção está correta e que  a isto chamamos  de concordância  ideológica.  O que  é  isto, então,  e quando  pode ser  ou não usada?

Denomina-se concordância   ideológica aquela que muitas vezes é  feita não com  base  na norma padrão, mas  na ideia de gênero,  número  ou  pessoa expressa pelo   sujeito da oração.  A  concordância ideológica é   também   chamada de   silepse.

Silepse de  número

A  silepse de   número  é  frequente  quando o sujeito da   oração é  representado  por   um termo  que transmite ideia de  coletividade, mas  tem  forma singular. Recomenda-se, na   norma padrão,  evitar  a  silepse de  número,  embora ela apareça  em  algumas  obras  literárias. Ex.: Assim é o povo desse  lugar. Brigam  por  seus  direitos.

Silepse de gênero

A silepse  de  gênero é   obrigatória com   pronomes de   tratamento e pode  ocorrer   com certos   pronomes  indefinidos.  
Ex.: Sua   Santidade parece  preocupado com a América  Latina. (= O Papa parece preocupado…)
Sei de  alguém que   ficará feliz  se   for convidada para a festa.

Também é um caso de silepse de gênero a construção “O Conversa de Português foi criado em 2008”. Aqui a concordância foi feita com o termo blog, que ficou implícito na oração.

Silepse de pessoa

Ocorre, por  exemplo,   quando o falante se inclui em   um sujeito   que   foi expresso  na   terceira  pessoa  do plural. Ex.: Os  alunos desta  escola reivindicamos melhores salas de aula.

Um  exemplo de  silepse  bastante comum  na  linguagem  informal é  o uso da expressão  a   gente com  o significado de  nós.   Ex.: A gente   queremos  mais   linhas de  ônibus. Note-se que este exemplo de  silepse, ao contrário  dos  outros,   é  rejeitado pela norma culta, uma   vez que representa, na   fala,  uma    variedade   linguística socialmente rejeitada.

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Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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