Por que motivo Esopo,
Se fala do raposo,
Sempre lhe dá patente
De esperto e audacioso,
E mais que os outros bichos,
Fino, sagaz, manhoso?”
(O lobo e o raposo.La Fontaine)
Ilustração de Gustave Dorè para a fábula Gata metamorfoseada em mulher.
Uma das disciplinas que leciono é Literatura Infantil e a dúvida que os alunos sempre trazem é a origem da literatura infantil: “É verdade que os contos infantis não foram originalmente escritos para as crianças? De onde vêm as fábulas?”. Em 2008, eu escrevi um pouco sobre isso, em meu blog Leio o Mundo Assim, quando sugeri a leitura da obra Fábulas, de La Fontaine, editada pela Martins Claret. Hoje, ao rever minhas anotações da aula dada durante a semana, decidi trazer para o Conversa um pouco da história da literatura dedicada às crianças e, para tal, faço a adaptação de um dos textos escritos por mim para o outro blog.
Os versos usados como epígrafe foram transcritos da fábula O lobo e o raposo, de Jean de La Fontaine, traduzida para a língua portuguesa pelo Barão de Paranapiacaba. O vocábulo fábula chegou à língua portuguesa através do latim e do grego (lat. fari, falar; greg. phaó, dizer, contar algo). O termo designa a narrativa de uma situação vivida por animais, representando situações vividas por seres humanos e cujo objetivo é a transmissão de certa moralidade. Considera-se que este tenha sido o primeiro gênero narrativo a aparecer.
Apesar de estar associada à literatura infantil, a fábula nasceu muito antes de se pensar em uma literatura voltada para a criança, pois sua origem está na tradição oral do Oriente, com as histórias que eram contadas geração após geração. Por volta do século VI a. C. , o gênero chegou à Grécia através de Esopo e, no século I a.C., ao Império Romano, através de Fedro, que o enriqueceu estilisticamente. No século XVI, Leonardo da Vinci tentou divulgar os textos, mas não obteve grande repercussão fora da Itália e muitos de seus escritos permaneceram desconhecidos até o século XX. O francês Jean de La Fontaine (1621 – 1695) reescreveu as fábulas a partir dos modelos latino e oriental, introduzindo-as definitivamente na literatura ocidental. Em suas obras não se encontram apenas as fábulas, mas também os apólogos (narrativas moralizantes cujos personagens são objetos), parábolas (narrativa moralizante da qual se deduz um ensinamento espiritual), as alegorias (narrativa em prosa ou verso que representa a ideia através de uma imagem) e os contos jocosos (originados nos fabliaux, narrativas alegres e muitas vezes obscenas, que tiveram grande sucesso na França medieval).
Fontes de pesquisa:
- COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil – Teoria, análise, didática. 7.ed. São Paulo: Moderna, 2000.
- LA FONTAINE, Jean de. Fábulas de La Fontaine.São Paulo: Escala, 2008.
- LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira – história e histórias. 6 ed. São Paulo: Ática, 2004.