De acordo com os dados do último senso realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira é composta por cerca de 100 milhões de negros – o equivalente a 50, 7% do total. Esse contingente é muito expressivo e é consequência do período de escravização da população negra. Não se sabe o número exato, mas acredita-se que aproximadamente 4 milhões de negros tenham sido trazidos da África ao Brasil e esse número não inclui os mortos na travessia do Atlântico. Como resultado desse processo, a cultura brasileira herdou religião, musicalidade, culinária e linguagem.
Em 9 de janeiro de 2003, foi a aprovada a Lei Nº 10.639/03, que “que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’ e dá outras providências”. Essa lei foi alterada cinco anos depois pela redação da Lei Nº 11.645, de 10 de março de 2008, que incluiu as culturas indígenas nos currículos escolares.
De acordo com os documentos, os conteúdos referentes ao tema devem ser contemplados em todo o currículo escolar, com especial destaque nas disciplinas de Literatura, História e Educação Artística. Eu entendo, portanto, que a disciplina Língua Portuguesa está subentendida ali no termo literatura (não quero pensar que o relator do projeto esqueceu a questão linguística!). E foi exatamente sobre a influência africana na língua portuguesa a disciplina A influência africana no português brasileiro, ministrada por mim no curso Formação para as relações étnico-raciais: dimensões da cultura afro-brasileira, promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) e realizado no campus Nilópolis do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ).
Durante o planejamento do curso, eu decidi abordar a cultura afro-brasileira sob o ponto de vista linguístico, já que, nos meus mais de vinte anos de sala de aula, eu nunca vira um livro didático ou uma gramática normativa que abordasse satisfatoriamente o tema. Antes de preparar o material para a disciplina, conferi alguns materiais didáticos e encontrei – como sempre! – as tabelas sobre os elementos mórficos que a língua portuguesa herdou do latim, do grego e outras línguas europeias. As línguas indígenas e africanas ou não são citadas ou aparecem em uma “lista” de elementos exóticos.
Uma vez que um dos objetivos da disciplina era debater aquelas leis a partir da cultura linguística brasileira, usei como referencial teórico básico os textos Influência das línguas africanas no português brasileiro, de Yeda Pessoa de Castro, e Desafios da formação continuada, de Lilian do Rocio Borba. Yeda Castro é considerada uma referência no assunto e Lilian Borba, em seu artigo, faz uma resenha das obras da outra pesquisadora a partir de uma abordagem educacional.
Veja abaixo o slide utilizado durante a aula:
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