Educação

Conversa com a professora Fátima Franco

A coluna  Entrevista nasceu  em  15 de  outubro de  2010 como  comemoração  ao  Dia do  Professor. A primeira  entrevista foi feita com Robson Garcia  Freire e Laurindo  Stefanelli – um professor experiente e  um universitário que  se prepara para  ser professor.  A  outra entrevistada foi Maria  Lúcia Marangon que   já participara do blog com uma sugestão de  leitura.  Hoje temos Fátima  Franco, doutoranda em  Linguística  Aplicada, criadora do Grupo  Blogs  Educativos.   Aproveito para deixar  aqui  meu  agradecimento à professora por  ter concedido  esta  valiosa entrevista ao  Conversa de Português.

Qual é a  sua  formação  e  há  quanto tempo está  no  magistério?

Fiz magistério  e depois as  licenciaturas  em Letras e Pedagogia. Depois disto, fiz especialização em  Educação Brasileira e Alfabetização e Linguagem. O mestrado foi em Linguística, na área de aquisição-ensino-aprendizagem de Língua Materna. Enquanto esperava a oportunidade de fazer um doutorado relacionado ao ensino de Línguas e Tecnologias, fiz mais duas especializações: Gestão de Educação à Distância e Design Instrucional para Ead Virtual. Estes cursos foram essenciais para que eu tivesse fundamentação teórica  e prática para enfrentar o  doutorado, que hoje curso na UFMG, em Linguística Aplicada, na linha de Linguagens e Tecnologias  e que tem sido uma experiência sensacional, em termos de aquisição de conhecimentos.

Estou na magistério desde 1972,desde antes de terminar o Curso Normal. Durante todo este tempo sempre estive em sala de aula, como professora de Português e Inglês ao mesmo tempo em que exercia outras funções como diretora escolar, coordenadora pedagógica e coordenadora de projetos, em outros horários. Atualmente, trabalho  como consultora em projetos educacionais relacionados ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação em projetos multidisciplinares.

Antes de ser professora, exerceu alguma outra profissão?

Não. Sempre fui professora.

Qual momento, em sua trajetória profissional, causou-lhe  mais emoção?

Foram 3 momentos. o primeiro no início da carreira, quando trabalhei como professora de alfabetização de adultos. Quando uma senhora, minha aluna de 80 anos aprendeu a ler e ficou imensamente feliz, foi como ter recebido um Oscar.

O segundo momento foi como coordenadora de um projeto de alfabetização aplicado em 48 escolas de zona rural do meu município. O projeto foi tão bem sucedido que foi  premiado pela Rede Brasil de Alfabetização, que tinha a coordenação geral da Drª Emília Ferreiro. Foi meu segundo Oscar, né?

Mas o Oscar mesmo, aquele dourado, aconteceu  quando meus livros de literatura infantil foram publicados pela secretaria de educação de minha cidade, para dar suporte ao Projeto de Alfabetização na zona Rural, que falei acima. Um dia uma menininha de 8 anos me entregou um bilhetinho, quando fui à escola dela: “Fátima Franco , eu aprendi a ler foi com seus livros“.  Tem como não ficar feliz? Guardo o bilhetinho com carinho, claro.

Tem mais momentos como este, em uma escola de educação  infantil, neste post no meu blog: http://leituraescola.blogspot.com/2007/04/ainda-livros-e-leitores.html#links

Em algum  momento pensou  em  desistir do  magistério? Por quê?

Ih, muitas vezes.Sempre  por causa dos salários humilhantes.Mas, depois a crise passava  e no outro dia eu estava em sala de aula de novo.

Você  faz  parte de um grupo de  trabalho (TABA Eletrônica) que  promove a capacitação de professores para o uso de  tecnologias na educação.  Em que consiste esse programa de capacitação?

 A TABA Eletrônica é  um projeto criado pela Profª Júnia Braga, da Faculdade de Letras da UFMG.Fui aluna dela em uma disciplina do doutorado e tive a honra de ser convidada a trabalhar no Projeto, como coordenadora pedagógica e como responsável por desenvolver oficinas.É um trabalho itinerante,pois capacita professores em suas cidades. Atualmente, somos cerca de 40 profissionais, professores e alunos da UFMG. O objetivo é  oferecer oficinas para uso das Tics em sala de aula, apresentando e expericiando  com o professor, principalmente os  recursos da Web 2.0, além de demonstrarmos  como utilizar estes recursos em situações diárias, em projetos multidisciplinares, desde  a pré-escola até o ensino médio. Este ano  iniciaremos cursos on line, como forma de atender a demanda de professores.

Por que inserir as tecnologias da  informação e  comunicação (TIC)  na  prática docente?

Não dá  mais para ficar pensando que se devemos ou não inserir as Tics, na prática docente. Elas fazem parte da vida do aluno.Mesmo aqueles  alunos considerados “carentes” frequentam Lan Houses e se apropriam de diferentes ferramentas. O que escola precisa fazer, e urgente, é inserir este aprendizado nas diferentes disciplinas, para que os alunos se sintam motivados a frequentar uma escola que fala  a língua deles e que ensina para a vida.

Apesar de haver uma  relevante produção acadêmica sobre o  uso das  TIC na Educação, ainda  é pequeno o  número de docentes  que as incorporam  em seu  trabalho. O que  falta para mudar esse cenário?

Há vários motivos: falta de oportunidade do professor se atualizar, oferecimento de bons cursos que realmente demonstrem como usar as Tics no trabalho escolar, dificuldades de horários para frequentar cursos  e , infelizmente, algumas vezes, má vontade do professor em utilizar as Tics, porque aprender e aplicar  o que aprendeu dá trabalho, não é? 

Eu já  ouvi  profissionais de  Educação dizerem  a alunos que “lugar de  aluno estudar  é na biblioteca”.   Eles  têm razão? Lugar de aluno  estudar é a  biblioteca?

Lugar de estudar pode ser na Biblioteca (quando tem!!!) mas pode ser em qualquer outro lugar. Estudar não é um ato que exige um aparato especial, como foi há tempos atrás. Podemos aprender sobre várias coisas, em diferentes lugares,usando o computador, o celular, ouvindo uma música, assistindo TV  e nos livros, claro.A informação está presente em diferentes espaços, em diferentes tecnologias.Cabe a nós, educadores, ensinar a nosso aluno  como transformar estas informações em conhecimento. Um bom exemplo disto é o filme “Quem quer ser um Milionário”. Toda a aprendizagem informal  do personagem foi transformada em conhecimento, que ele usou na hora adequada.

Você  criou  uma  lista de discussão  exclusivamente para professores que utilizam  ou pesquisam  o  uso das  TIC  na sala de aula. Como  surgiu o   grupo  Blogs  Educativos?

Em 2005, a Profª Marli Fiorentin agendou um chat no Educarede , para discutir sobre uso dos Blogs na educação. Como eu era um edublogueira solitária,pois havia pouquíssimos blogs educacionais no Brasil,compareci ao chat , pois era uma oportunidade de discutir o tema com outros educadores. Como o chat só tinha  a duração de uma hora e tínhamos muito para conversar, criei uma lista e convidei o pessoal para continuarmos a discussão. Na época éramos seis participantes : eu, Marli, Gládis Leal, Adriane Halmam (que fez a primeira dissertação de mestrado sobre blogs educacionais) Mateus e Cristina Sleiman.Daí criei um blog para  apresentar novidades da área: o blogs educacionais (que não esta mais on line)e vários professores foram chegando.O trabalho com os blogs começou a repercutir na Web, várias revistas começaram a publicar o  que estava sendo desenvolvido pelos colegas e  o grupo cresceu. Hoje já somos mais de 1100 participantes do Brasil, Portugal, Espanha,França, Argentina e professores de uma escola brasileira no Japão.

 Como saber se  o   blog é  realmente educativo? Quais características contribuem  para este  conceito?

Um blog é educativo quando tem um foco educacional. Pode ser até um blog que fale de cozinha, mas que tenha o objetivo de trabalhar aspectos educacionais. Se for um blog educativo criado por um professor ele precisa ter como foco o seu trabalho e não seus casos, cópias de trabalhos alheios, ou historinhas sobre o seu dia,já que aí ele se torna um blog pessoal, destes que são considerados diários on line. A melhor forma de saber se um blog é educacional é seguir seus posts. Verificar qual o foco do blog, se o professor tem segurança naquilo que escreve,se ele realmente é um especialista naquilo que se propõe a escrever, se suas informações são corretas e, principalmente, se cita e linka  fontes confiáveis em seus textos. Se não tem foco, se fala de qualquer coisa, eu costumo dizer que é um ” blog salada”, aquele que mistura todo tipo de assunto, para aparecer nas buscas do Google. 

Além  do  grupo, há também a  revista on line Tecnologias  na Educação. Como ela  surgiu?

A revista surgiu pela  necessidade de ter um espaço para  publicação dos trabalhos apresentados no I Congresso de Tecnologias na educação, um congresso on line, que organizamos em 2008.Depois disto muita gente escreveu perguntando se a revista teria continuidade, pois havia a falta de um espaço na Web  para professores publicarem seus trabalhos. Por isto, a revista foi registrada e  tem recebido muitos artigos para análise. Infelizmente, ainda são poucos os trabalhos aceitos  devido à falta de hábito do professor escrever textos científicos, próprios para uma publicação deste tipo, o  que garante a credibilidade da revista. 

Conheça os  blogs e  a revista da professora  Fátima  Franco:

http://leituraescola.blogspot.com

http://internetnaeducacao.blogspot.com

http://tecnologiasnaeducacao.pro.br

6 Comments

  1. por favor queria tirar algumas duvidas que ñ posso tirar com meu prof de portugues pois ele ñ sabe explica e expero que vc saiba!!!

  2. Olá, Andréa!
    Parabéns pela entrevista.
    Muita coincidência mesmo nós duas postarmos no mesmo dia! rsrsrs
    Bjs…

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Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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