Literatura

Vinícius centenário

Hoje, 19 de outubro de  2013, o Poetinha completaria  100 anos.  Ele, que  nasceu Marcus Vinícius de Melo Moraes, foi diplomata, poeta, músico, censor, crítico cinematográfico. Como  músico, é  um dos  principais  nomes  da música brasileira; como  poeta,  integra o grupo da Segunda Geração Modernista.

Como participante da Bossa Nova,  Vinícius dedicou-se a compor letras para canções populares, o que nos  deixou textos muito conhecidos como Garota de  Ipanema,  Eu sei  que vou  te amar, Samba do avião, Samba da benção, Se todos fossem  iguais  a você,  Chega de saudade  e Rosa de Hiroshima. 

Ney Matogrosso canta Rosa de Hiroshima.

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Sua vivência como  diplomata  em  missão fora  do Brasil foi uma influência para  a sua poesia que, de certo  modo, traduzia o nacionalismo crítico dos poetas de sua geração. É o  que  podemos  observar  em  um trecho do poema  Pátria Minha:

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Outro  trecho  do  mesmo poema mostrava a influência  do Romantismo  sobre  a sua obra, por meio de uma intertextualidade possível com o  poema Canção do  Exílio,  de Gonçalves  Dias:

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes.”

Assim como os  textos de  outros  autores  da Segunda  Geração, a poética musical de Vinícius de  Moraes refletia – ainda que  de modo sutil – uma preocupação social, que o  fez  produzir poemas como Operário  em construção e canções como Gente humilde:

Renato Russo canta Gente humilde.

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Uma das características marcantes da Segunda Geração é a retomada de formas líricas fixas e  Vinícius de Moraes escreveu  diversos  sonetos: Soneto de  fidelidade, Soneto da  mulher ideal, Soneto de separação, Soneto de intimidade, Soneto do amor total e  outros.

Outro  momento  literário que  pode  ter  influenciado a obra de Vinícius de Moraes foi o Trovadorismo. Nesse movimento, caracterizado pelo  que ficou conhecido  por  “amor  cortês”, o poeta medieval apresenta-se como  vassalo da mulher amada, a quem  dedica a vida e sua canção. Podemos  perceber essa influência na música Para viver um grande  amor, parceria entre  Toquinho e  Vinícius:

[…]

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso.
Muita seriedade e pouco riso, para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher.
Pois ser de muitas, poxa!, é pra quem quer, nem tem nenhum valor.
Pra viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro, seja lá como for.
Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada
E portar-se de fora com uma espada para viver um grande amor.
[…]

 Toquinho e  Vinícius  declamam  Para  viver  um grande  amor.

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Podemos  dizer  que a  poesia de  Vinícius  foi  iniciada com o  tom religioso herdado do Simbolismo, mas  afastou-se  em  direção ao  que o público mais  conhece  ainda  hoje: sensualismo  erótico, a  busca  da  felicidade,   a temática  social e sua grande  contribuição  para  a música brasileira.

2 Comments

  1. Desde que recebi o Feed de notícias do Blog sobre o centenário do Vinícius, sempre que abria a caixa do correio ficava morrendo de vontade de vir logo conferir a matéria. Outras prioridades mais urgentes relacionadas com o meu trabalho levavam-me a postergar a leitura. Além do mais, estava convencido que você, Andréa, tinha nos reservado um saboroso petisco para marcar o centenário do Vinícius no Blog. Então, disse comigo mesmo, – vou precisar de tempo para saborear esse pitéu…

    Não me enganei! Já era amante da obra musical da dupla Vinícius e Toquinho, entretanto, desconhecia completamente as maravilhosas nuances literárias e poéticas por detrás da obra musical. Você nos proporciona uma viagem deliciosa. Foi como saborear um vinho guardado para uma ocasião especial. Degustei o texto nos mínimos detalhes; segui todas as ligações externas sugeridas, curtindo todos os vídeos.

    Seguindo as ligações externas sugeridas, encontrei materiais complementares do mais alto nível, como por exemplo, um especial inteirinho que a TV Cultura produziu em 1999 com o Toquinho.

    A matéria teve o mérito de me despertar para a beleza das canções como arte literária também, mergulhando no maravilhoso subjetivismo oculto nas letras das composições, despertando em mim maior interesse pelos aspectos literários, linguísticos e poéticos, presentes nas obras dos mestres da nossa MPB.

    Agora, depois desta viagem incrível, fico me perguntando: – porque estou tão envolvido com tecnologia se sou apaixonado mesmo pela literatura?… rss, rss, rss, ….

    Muito obrigado, professora Andréa.

    1. Bedias, fico feliz por saber que o Conversa de Português proporciona boas leituras e o faz refletir sobre sua própria vida. A cada comentário que vocês, leitores, deixam aqui (e nem sempre os comentários são tão elogiosos), a minha responsabilidade de escrever bons textos aumenta. Eu espero continuar merecendo a atenção de todos vocês.

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Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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