Língua Portuguesa

O elemento indígena no português do Brasil

A expansão marítima de Portugal  levou a  língua  portuguesa aos cinco continentes e é  falada  como língua oficial em oito  países. Em muitas colônias,  o  processo de “colonização  linguística” resultou  em línguas crioulas – a mistura de características do português com  uma língua local.  No Brasil, hoje,  há  a língua portuguesa – língua  oficial e  materna da  maioria dos  brasileiros –, as indígenas, as de fronteira, as de  imigração e, em  menor  grau, as africanas.  No artigo publicado na sexta-feira, dia 14 de  maio de 2010, observamos  os elementos  africanos  presentes na língua  portuguesa;  hoje, veremos  como o Brasil deixou de falar  a língua tupinambá e  adotou o  português.

A história  mostra  que a introdução  da   língua  portuguesa no Brasil  só foi possível  devido ao desaparecimento de centenas  de   línguas indígenas (Das 1200  línguas faladas  no país antes de 1500, restam  apenas 181). Quando  os primeiros  colonizadores  chegaram  ao  Brasil,  a língua  predominante  na  região  onde hoje  é  o estado de São Paulo  era o tupinambá, que,   durante  os primeiros   dois  séculos de colonização,  foi  modificado  pela convivência entre índios e europeus. Os jesuítas, enviados para catequizar índios e europeus, precisaram  aprender as línguas nativas e  há  registro de que,  em suas   escolas,  o tupi era  ensinado aos filhos  dos  colonos.  Obviamente,  o  tupi  não era  a única  família linguística no Brasil, mas  os índios tupinambás serviam  de intérpretes  entre os colonos e os falantes das outras línguas.  O bandeirantismo  também   foi  um importante fator  para a difusão do ramo tupi falado  em São Paulo: nas  entradas  pelo sertão, muitos bandeirantes eram  guiados por índios. O  professor   Ismael de  Lima  Coutinho (1996)  afirma que “deste modo é  que se justifica a existência de tantos   topônimos  fora  da região ocupada pelos  índios tupi”.

Em  1525,  o  padre José de Anchieta escreveu a primeira gramática  tupi; em 1621,  foi  escrita uma  sobre a língua karirí por Luís  Figueira e, em 1699, Manuel Viegas escreveu a gramática da língua maramonin.  Em meados do século  XVIII,  já  era tão grande  o número de falantes  de línguas tupi , que estas foram  proibidas  na  reforma  promovida  pelo  Marquês de Pombal; assim declarava-se  a  língua  portuguesa   como a  oficial  do  Brasil.  Tínhamos, portanto, até  1757, uma  população bilíngue.

Apesar da proibição das línguas indígenas (sobretudo, o tupinambá), estas já  haviam deixado alguns  elementos no português falado  no  Brasil. É o que  explica termos hoje   vocábulos  como:  Araci, Baraúna, Jupira, Moema, pitanga, Jurema, Jaci, Ubirajara, Niterói, Paraíba,  Paquetá, Tietê,  Sucupira, araponga, arara, capivara,  curió, gambá, maracanã, piranha, mandioca, jequitibá, ipê, pororoca, catapora, moqueca, tiririca.

Leia também:

Língua  portuguesa  na África

África no português falado  no Brasil

Fonte de pesquisa:

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. 7.ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1996. p. 324.

NAVARRO, Eduardo.  O tupi na  construção  do Brasil. Revista Biblioteca EntreLivros- Línguas, 2006. p. 80 –82

ZILLES,  Ana M. S. O jeitinho brasileiro de  falar  português. Revista Biblioteca EntreLivros- Línguas,  2006. p. 72-75

Andréa Motta

Professora de Língua Portuguesa , Literatura e Formação do Leitor Literário no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

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